14 julho 2006

Kelley Stoltz - Bellow The Branches

Como medir o quanto um artista/grupo é desconhecido?

Duas ações rápidas podem resolver essa questão: procurar por comunidades relacionadas no orkut, ou por citações no google. Se o primeiro teste se mostrar infrutífero (TODOS possuem comunidades relacionadas aos seus nomes! Até mesmo a banda do seu vizinho pentelho, com algumas dezenas de membros – e não interessa que sejam todos da mesma turma que ele na escola), a banda, o artista, é provavelmente um tanto quanto obscuro; se o google não for suficiente, então você realmente tem um problema! O que tem ouvido ultimamente é tão popular quanto cabeça de bacalhau. E Kelley Stoltz faz parte desse time.

Só para se ter uma idéia, até dois meses atrás, a única comunidade que leva seu nome possuía a gigantesca quantidade de... 3 membros! Hoje, após Kelley ter sido descoberto por uma meia dúzia (quase que literalmente) de pessoas, o número de membros subiu: foi para 5. (Sebastião Estiva – a piada quase secreta de 3 amigos músicos de diferentes estados do Brasil –, que diz fazer questão de ser despopular, tem 145 membros na comunidade que leva seu nome.)

Kelley, que chega em 2006 com o excelente Bellow The Branches, começou no mundo da música ainda na década de 80, mas foi somente em 1999 que conseguiu lançar seu primeiro disco, The Past Was Faster. De lá pra cá, lançou também Antique Glow (2003), e The Sun Comes Through (2005), além de Crockodials, álbum de versões para músicas do Echo & The Bunnyman (gravado em 2001, mas com data de lançamento imprecisa). Todos no melhor estilo lo-fi, gravado em estúdio caseiro, com Kelley cantando e tocando todos os instrumentos. Um trabalho tão pessoal que, na época de Antique Glow, era ele também quem pintava as capas personalizadas de seus cds, que eram vendidos exclusivamente por email.



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Musicalmente, Stoltz, que assinou com a Sub Pop no ano passado (The Sun Comes Through e Bellow (...) saíram por lá), traz claras influências de Velvet Underground, além de algo de Syd Barrett, Nick Drake, Beach Boys, Beatles e, claro, Echo & The Bunnyman. Bellow The Branches tem um pouco de tudo isso.

Wave Goodbye, música que abre o mais recente trabalho de Kelley, poderia facilmente ter sido composta por Lou Reed. Bateria e piano dando a marcação, melodia assobiável, guitarra com ótimo timbre.

Little Lords é uma bela canção, mas que acaba apagada pela Brianwilsística terceira faixa. Ever Thought Of Coming Back é, com seu “pianinho” e seus backing vocals (“uuuuhhh, aaaaahhh”) Beach Boys do começo ao fim, em sua melhor fase (leia-se Pet Sounds) . Qualquer um que tenha o mínimo de apreço por álbuns do início da era psicodélica vai se pegar automaticamente apertando o repeat.

Antes que Words comece a tocar, Bellow The Branches já o conquistou. Depois então... não há mais como deixar de ouví-lo. Harmonia simples e arranjo primoroso – duas características comuns ao álbum – estão brilhantemente presentes nessa faixa, seguida por Mystery, que externa um pouco mais a até então discreta influência do calado Nick Drake.

Summer's Easy Feeling muda um pouco o clima do disco, mas é seguida por Memory Collector, de inegável sonoridade Beatles/Beach Boys.
Até aqui você terá se perguntado, diversas vezes, coisas como “como é que eu não conhecia isso?”. E essa é mesmo uma boa pergunta! Como é que não conhecíamos isso? Como é que Kelley Stoltz continua absurdamente desconhecido, quatro meses depois do lançamento dessa obra prima que é Bellow The Branches? Boa pergunta, meu caro... boa pergunta!

Birdies Singing, tem uma linha de baixo mais do que simples, de pouquíssimas notas, que, ao lado do refrão “la-la-la-la”, a transforma no ponto alto do disco.

Um dos momentos mais Syd Barrett do álbum fica por conta de The Rabbit Hugged The Hound. Não lembra nada em especial do recém-falecido fundador do Pink Floyd, mas não é difícil imaginá-lo compondo algo como essa música (e, mais uma vez, se Syd é considerado genial por tanta gente, a pergunta sobre o porquê Kelley ser tão desconhecido é algo que permanece sem resposta, sem razão).

The Sun Comes Through, Winter Girl e Prank Calls tem as características necessárias para agradar qualquer fã de Beatles pós-White Album. The Sun (...) e Prank Calls se valem até de vocais com efeitos bastante utilizados pelos besouros, especificamente por John, nessa época, enquanto Winter Girl é o “momento Paul” que as separa, antes que No World Like The World, outra das mais bonitas, venha para fechar o álbum.

Bellow The Branches é um álbum que se revela indispensável para quem quer que se interesse pelo som da segunda metade da década de 60. Seus ouvidos serão enfáticos ao dizer a mesma coisa que Kelley, quando elogiado via email por um aspirante a jornalista que lhe garantiu que Bellow (...) era o melhor disco do ano: “Hey, dude! Thanks a lot!”.



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