23 julho 2006

Loose Fur - Born Again In The USA

Se você está minimamente por dentro do que há de melhor na (boa) música pop de hoje, então o nome de Jeff Tweedy não é nenhum mistério.

Tweedy, que não é mais nenhnum garoto, ingressou no mundo da música em meados dos anos 80, através do Uncle Tupello, banda que, em pelo reinado dos sintetizadores, voltava seus ouvidos para o country e para o folk tipicamente americanos, e depois os reprocessava, adicionando um tanto de punk aqui, outro tanto de pop ali, e tornava tudo um pouco mais interessante.
Uncle Tupello, que chegaria ao fim em 1994 com a saída de Jay Farrar (Farrar formaria o Son Volt logo em seguida), foi uma das bandas pioneiras do chamado Alternative-Country, que mais tarde ganharia reforços de nomes como Whiskeytown (que revelaria Ryan Adams), Honeydogs, The Jayhawks e outros.

Em 1995, contando com última formação do Uncle Tupello (menos com Jay Farrar, é claro), além do guitarrista Jay Bennet, Jeff Tweedy entrou em estúdio para gravar o primeiro álbum de uma das bandas mais interessantes da última década, o Wilco. A.M. trazia ainda uma sonoridade muito próxima a da banda que antecedeu ao recém-nascido Wilco, o que não chega a ser um problema. A identidade própria porém, foi algo que só surgiu após as seguidas mudanças na formação (que na verdade transformaram o Wilco na banda-de-Jeff-Tweedy), a partir de seu terceiro disco, o indefectível Summerteeth, de 1999.
Antes de Summerteeth, em 1998, Jeff e “seu” Wilco trabalharam ao lado de Billy Bragg no disco Mermaid Avenue, musicando letras esquecidas de Woody Guthrie, uma lenda do folk norte-americano. A pareceria seria retomada em 2000, para o disco Mermaid Avenue Vol. II.

Entre as muitas parcerias e participações, Jeff Tweedy integrou também os grupos Golden Smog (sob a alcunha de Scot Sumitt) e The Minus 5, além do Loose Fur – projeto de Jeff e Glenn Kotche, este baterista fixo (até quando?) do Wilco, com o “faz tudo” Jim O’Rouke – que em 2006 pôs nas lojas seus segundo disco, intitulado Born Again in the USA.

Photobucket - Video and Image Hosting



O som feito pelo Loose Fur é um tanto quanto difícil de ser definido. Expande ainda mais as fronteiras do experimentalismo já praticado pelo Wilco em seus álbuns mais recentes (também por influência de Jim O’Rouke que, desde Yankee Hotel Foxtrot, trabalha na produção do Wilco, abrindo a cabeça de Jeff Tweedy para outros sons, como o kraut-rock, por exemplo), e, de alguma forma (sem querer parecer simplório), acaba soando como uma nada óbvia mistura de Sonic Youth e Wilco.

Quando comparado à Loose Fur, o primeiro disco do projeto (mas só nesse caso), Born Again in the USA é um álbum de audição fácil. Soa mais rock, abre mão de (muita) microfonia, e até se permite conter canções mais pop – como The Ruling Class, com seu assobio irresistível.
Até nos momentos de maiores experimentações, o trio polpa seus ouvintes de grandes desconstruções, de harmonias difíceis, de ruídos etc. Até estão ali, mas contidas, nos lugares certos.

O grande destaque do disco fica por conta dos timbres das guitarras, como no belo instrumental An Ecumenical Matter, ou em Wreckroom – em que é impossível não lembrar dos timbres usados por guitarristas como Steve Howe e Steve Hackett no começo da década de 70.


A grande verdade é que Born Again In The USA não passa perto de ser o melhor trabalho da carreira de Jeff Tweedy – e nem poderia, afinal, Loose Fur não é Wilco. Mas é um bom disco, e, por fim, acaba servindo como aperitivo para aqueles que anseiam por um novo álbum da banda oficial do incansável Jeff.

20 julho 2006

Mojave 3 - Puzzles Like You

Photobucket - Video and Image Hosting



Passados três anos do magnífico e algo pretensioso Spoon and Rafter (sucessor do estupendo Excuses for Travellers, do ano 2000), o gênio Neil Halstead brinda o mundo musical com mais uma obra-prima. No dia 29 de junho o planeta recebeu o álbum Puzzles Like You, o quinto e, disparado, o mais alegre trabalho do Mojave 3.

Se Neil chegou a ser anunciado como o Bob Dylan da nova geração, graças às suas letras poéticas e melodias tão bem construídas quanto melancólicas, parece que ele não quis levar adiante esta tremenda responsabilidade. Puzzles Like You é alegre, vibrante, colorido, sem deixar de ser tecnicamente muito bem tocado. Das 12 músicas, apenas três tem alguma sombra de melancolia. E a primeira delas é só a quinta do disco. As quatro primeiras vão bater fundo nos admiradores do melhor indie pop (ou perfect pop, como se chamava o estilo nos anos 80). Com boas letras e refrões simples (mas não simplórios), vão grudar como chiclete nos cérebros dos ouvintes.

Tal mudança de rumo tem uma justificativa aparente. Pela primeira vez, tanto na história do Mojave 3 como do Slowdive e também da carreira solo de Neil Halstead, o disco foi inteiramente gravado no estúdio particular do líder da banda, o que ajudou, sem dúvida, na criação do clima divertido e emocional de Puzzles Like You. Em entrevista para o site Pitchforkmedia, Neil reconhece que as sessões de gravação foram muito divertidas e isso resultou no alto-astral que transpira de quase todas as canções do disco, esperando apenas que isso não desagrade aos fãs que viam no Mojave 3 o supra-sumo da melancolia.

O disco começa muito bem com Truck Driving Man, que dá bem a noção do que vem pela frente: batida acelerada, guitarras muito mais rápidas do que o habitual e o tradicional vocal adocicado de Neil que tenta (sem conseguir) adicionar uma certa urgência - o que é novidade em se tratando de Mojave 3. A segunda canção, que dá nome ao disco, é igualmente doce, alegre e rapidinha, lembrando (como várias outras), Belle and Sebastian nos momentos mais inspirados. O disco continua com músicas que beiram o power pop, como no primeiro single "Breaking the Ice", com direito até a palmas no refrão e também em "Big Star Baby". Ao invés de temas como saudade, contemplação, tristeza, presentes em todos os discos anteriores, Neil vai direto ao ponto no refrão (correndo o risco de assustar os fãs mais rigorosos): "I Wanna Be A Big Star, Baby. Anyway". Esse é o clima de "Puzzles Like You", disco que prova que alegria também pode ser relacionada com qualidade e melodias de alto nível.

17 julho 2006

The Concretes - In Colour

Photobucket - Video and Image Hosting



Formada em Estocolmo em 1995 por Victoria Bergsman, Maria Eriksson e Lisa Milberg (vocalista, guitarrista e baterista, respectivamente), a banda ganhou novos membros ao longo do anos. Cinco ao todo, entre guitarra, baixo, teclado, sopro e mais vocal.
Musicalmente, a banda faz (e bem feito) o que costuma ser chamado de indie pop, ou twee pop, podendo ser comparada à Belle & Sebastian (e, em alguns momentos, à carreira solo de Isobel Campbell), Camera Obscura e Rilo Kiley. Ou seja, algo que pode ser bem agradável de se ouvir – se essa é sua praia –, ou pode soar chaaaato que só.

In Colour, quarto álbum na carreira do grupo, não vai mudar a sua vida (aliás, há algo do gênero que seja capaz de tal façanha?). Em termos de comparação, perde para Let's Get Out of this Country, dos escoceses do Camera Obscura. Mas não deixa de ser um bom disco, com ótimos momentos, como no caso de Sunbeams, Fiction, Tomorrow e Song For The Songs, faixas em que se destacam as melodias adocicadas e o contraste entre climas ora “felizes”, ora melancólicos, pontuados por bons e simples arranjos de metal e, as vezes, cordas.

Vista a roupa confortável, feche as cortinas da sala, deite no seu sofá favorito, aperte o play e feche os olhos. In Colour, um daqueles discos indicados para os dias em que você não tem que se preocupar com absolutamente nada, é mais uma confirmação de que, quando o assunto é pop de qualidade, a Suécia é mesmo um país e tanto.

16 julho 2006

Chico Buarque - Carioca

Mais uma vez, posto um texto que saiu originalmente no Scream & Yell, em 21 de maio. Mas agora, para sair do mundinho de bandas-que-poucos-conhecem (caso dos dois últimos textos), vamos de Chico Buarque, um texto escrito por mim e editado pelo Marcelo Costa.
..................

Photobucket - Video and Image Hosting



Chico Buarque é hors-concours! Nelson Rodrigues disse, certa vez, que toda unanimidade é burra. Se levarmos em conta a frase acertada do dramaturgo, poderíamos entender que há algo de errado com essa louvação geral, mas é preciso lembrar também que toda regra tem a sua exceção. E na MPB essa exceção se chama Francisco Buarque de Holanda. Relevante até quando se cala - ou, se pensarmos na ocasião da censura da época da ditadura, quando o tentavam calar -, Chico quebra um silêncio de oito anos sem gravar e lança Carioca, primeiro álbum com composições inéditas desde As Cidades, de 1998.

O cantor transpira o Rio de Janeiro - suas ruas, amores, mulheres, dores e mazelas - em Carioca, o que o título torna até óbvio, e o passeio pela cidade começa por/pelos Subúrbios, faixa de abertura em que ele canta a periferia - esquecida nos mapas que o próprio cantor e escritor, em entrevista, diz ter comprado em uma banca de jornal - listando bairros, descrevendo a pluralidade de sons e costumes, e chamando pela voz do povo desse subúrbio. É verdade que, num primeiro momento, o conceito da letra pode lembrar a canção Gente Humilde, gravada em 1970, no álbum Volume 4. A diferença está no fato de que, enquanto a antiga composição - mais de Garoto e Vinícius de Moraes que de Chico -, falava de um subúrbio poético e saudoso, a nova trata da periferia do presente, menosprezada por autoridades, mapas e cartões-postais.

Uma nova polêmica envolvendo o nome do compositor diz respeito à sua postura a favor da flexibilização das leis antidrogas. Chico tem dito por aí que o uso de entorpecentes no Brasil, ao contrário dos países ricos, é um drama social, e não um problema de saúde pública, e que a discussão da descrimilazição é algo mais do que necessário. Outros Sonhos, a segunda canção do álbum, reflete bem essa posição. Durante toda a letra, Chico fala sobre sonhos impossíveis, sobre um lugar em que "De mão em mão o ladrão/ relógios distribuía", e onde "Maconha só se comprava/ Na tabacaria /Drogas na drogaria". Numa cidade cujo tráfico observa a praia do alto dos morros, a paisagem cantada por Chico soa poética e sonhadora. Quem dera...

Entre os destaques do disco ressurge Ode aos Ratos, composição - parceria com Edu Lobo - feita para a trilha sonora da peça Cambaio, de João e Adriana Falcão, encenada em 2001. Em tom menor e com referência de ritmos nordestinos, Ode aos Ratos traz uma parte bastante interessante, que fica por conta de uma embolada trava-língua que, ao mesmo tempo em que tem um pé em Jackson do Pandeiro, é praticamente um rap, e é um tanto difícil de acompanhar: "Rato / Rato que rói a roupa / Que rói a rapa do rei do morro / que rói a roda do carro / Que rói o carro / Que rói o ferro / Que rói o barro (...)", e por aí vai.

Assim como Ode aos Ratos, nem todas as músicas de Carioca são inéditas: Dura na Queda está em Do Cóccix ao Pescoço, de Elza Soares; Renata Maria teve seu primeiro registro na voz de Ivan Lins, que divide a autoria com Chico; Imagina (que em Carioca traz a participação de Mônica Salmaso), música de Tom Jobim e letra de Chico, fez parte da trilha de Para Viver um Grande Amor, de Miguel Faria Jr.; e Leve já foi gravada por Dora Vergueiro, Carol Sabóia e Carlinhos Vergueiro - co-autor ao lado de Chico. Essa última é outra das faixas reluzentes do álbum, com seu arranjo bossa-novista, basicamente piano e violão, e sua letra, que passeia por pontos turísticos da cidade do Rio de Janeiro ao mesmo tempo em que o personagem dispensa, com classe e - perdoem a repetição - de forma "leve", um caso recente. Carioca que só ele.

Jorge Helder, responsável por gravar os baixos do disco, compôs a bela melodia de Bolero Blues, a qual Chico Buarque - amigo e ídolo de Helder - preencheu com uma letra tão brilhante quanto a própria melodia, contando em primeira pessoa a história de um sujeito que espera pela amada, durante anos, ainda que sem se dar conta disso, mas quando enfim a encontra, perde sua única oportunidade. "Eis que do nada ela aparece / Com o vestido ao vento / Já tão desejada (...) Mas aquela ingrata corre / E a Barão da Torre e a Vinícius de Moraes / São de repente estranhas ruas". Ela se foi, e ele só pode lamentar: "Tarde demais".

A triste Porque Era Ela, Porque Era Eu completa o disco ao lado de As Atrizes (uma homenagem de Chico às atrizes dos filmes franceses que via quando garoto), Ela Faz Cinema (de uma ironia um tanto quanto divertida) e Sempre. Alguns críticos acusam Chico Buarque de ter feito um disco difícil e (maldito saudosismo!) aquém de obras como Construção (1971), Volume 3 (1968) e Meus Caros Amigos (1976).

Carioca não é mesmo tão perfeito quando os álbuns intocáveis citados acima, mas surge como o melhor trabalho de Chico em anos - bem melhor que As Cidades, de 1998, por exemplo. E sim, é um disco difícil, como difícil é a vida no Rio de Janeiro. Tendo a cidade como fonte de inspiração, não se poderia esperar um disco fácil. Como define o próprio em entrevistas, "o Rio está uma esculhambação, do futebol ao Aeroporto Tom Jobim". Mas Chico bate forte no peito, duro na queda, chama a responsabilidade pra si e crava Carioca na capa do CD, como um manifesto de amor à sua terra, simbolizada na beleza de uma menina que "perdeu a saia, perdeu o emprego", mas "desfila natural (...), samba no chafariz", e canta "viva a folia, a dor não presta, felicidade sim". A dor não presta. Mesmo cantando o Rio, Chico é um artista brasileiro. Paratodos.

14 julho 2006

Kelley Stoltz - Bellow The Branches

Como medir o quanto um artista/grupo é desconhecido?

Duas ações rápidas podem resolver essa questão: procurar por comunidades relacionadas no orkut, ou por citações no google. Se o primeiro teste se mostrar infrutífero (TODOS possuem comunidades relacionadas aos seus nomes! Até mesmo a banda do seu vizinho pentelho, com algumas dezenas de membros – e não interessa que sejam todos da mesma turma que ele na escola), a banda, o artista, é provavelmente um tanto quanto obscuro; se o google não for suficiente, então você realmente tem um problema! O que tem ouvido ultimamente é tão popular quanto cabeça de bacalhau. E Kelley Stoltz faz parte desse time.

Só para se ter uma idéia, até dois meses atrás, a única comunidade que leva seu nome possuía a gigantesca quantidade de... 3 membros! Hoje, após Kelley ter sido descoberto por uma meia dúzia (quase que literalmente) de pessoas, o número de membros subiu: foi para 5. (Sebastião Estiva – a piada quase secreta de 3 amigos músicos de diferentes estados do Brasil –, que diz fazer questão de ser despopular, tem 145 membros na comunidade que leva seu nome.)

Kelley, que chega em 2006 com o excelente Bellow The Branches, começou no mundo da música ainda na década de 80, mas foi somente em 1999 que conseguiu lançar seu primeiro disco, The Past Was Faster. De lá pra cá, lançou também Antique Glow (2003), e The Sun Comes Through (2005), além de Crockodials, álbum de versões para músicas do Echo & The Bunnyman (gravado em 2001, mas com data de lançamento imprecisa). Todos no melhor estilo lo-fi, gravado em estúdio caseiro, com Kelley cantando e tocando todos os instrumentos. Um trabalho tão pessoal que, na época de Antique Glow, era ele também quem pintava as capas personalizadas de seus cds, que eram vendidos exclusivamente por email.



Photobucket - Video and Image Hosting

Musicalmente, Stoltz, que assinou com a Sub Pop no ano passado (The Sun Comes Through e Bellow (...) saíram por lá), traz claras influências de Velvet Underground, além de algo de Syd Barrett, Nick Drake, Beach Boys, Beatles e, claro, Echo & The Bunnyman. Bellow The Branches tem um pouco de tudo isso.

Wave Goodbye, música que abre o mais recente trabalho de Kelley, poderia facilmente ter sido composta por Lou Reed. Bateria e piano dando a marcação, melodia assobiável, guitarra com ótimo timbre.

Little Lords é uma bela canção, mas que acaba apagada pela Brianwilsística terceira faixa. Ever Thought Of Coming Back é, com seu “pianinho” e seus backing vocals (“uuuuhhh, aaaaahhh”) Beach Boys do começo ao fim, em sua melhor fase (leia-se Pet Sounds) . Qualquer um que tenha o mínimo de apreço por álbuns do início da era psicodélica vai se pegar automaticamente apertando o repeat.

Antes que Words comece a tocar, Bellow The Branches já o conquistou. Depois então... não há mais como deixar de ouví-lo. Harmonia simples e arranjo primoroso – duas características comuns ao álbum – estão brilhantemente presentes nessa faixa, seguida por Mystery, que externa um pouco mais a até então discreta influência do calado Nick Drake.

Summer's Easy Feeling muda um pouco o clima do disco, mas é seguida por Memory Collector, de inegável sonoridade Beatles/Beach Boys.
Até aqui você terá se perguntado, diversas vezes, coisas como “como é que eu não conhecia isso?”. E essa é mesmo uma boa pergunta! Como é que não conhecíamos isso? Como é que Kelley Stoltz continua absurdamente desconhecido, quatro meses depois do lançamento dessa obra prima que é Bellow The Branches? Boa pergunta, meu caro... boa pergunta!

Birdies Singing, tem uma linha de baixo mais do que simples, de pouquíssimas notas, que, ao lado do refrão “la-la-la-la”, a transforma no ponto alto do disco.

Um dos momentos mais Syd Barrett do álbum fica por conta de The Rabbit Hugged The Hound. Não lembra nada em especial do recém-falecido fundador do Pink Floyd, mas não é difícil imaginá-lo compondo algo como essa música (e, mais uma vez, se Syd é considerado genial por tanta gente, a pergunta sobre o porquê Kelley ser tão desconhecido é algo que permanece sem resposta, sem razão).

The Sun Comes Through, Winter Girl e Prank Calls tem as características necessárias para agradar qualquer fã de Beatles pós-White Album. The Sun (...) e Prank Calls se valem até de vocais com efeitos bastante utilizados pelos besouros, especificamente por John, nessa época, enquanto Winter Girl é o “momento Paul” que as separa, antes que No World Like The World, outra das mais bonitas, venha para fechar o álbum.

Bellow The Branches é um álbum que se revela indispensável para quem quer que se interesse pelo som da segunda metade da década de 60. Seus ouvidos serão enfáticos ao dizer a mesma coisa que Kelley, quando elogiado via email por um aspirante a jornalista que lhe garantiu que Bellow (...) era o melhor disco do ano: “Hey, dude! Thanks a lot!”.



Visite: Site Oficial: Kelley Stoltz
Leia mais: Sub Pop
Entre em Contato: kelleystoltz@hotmail.com

13 julho 2006

Eskobar - Eskobar

Antes de falarmos necessariamente sobre o álbum mais recente do grupo, cabe aqui um apanhado geral sobre "quem é Eskobar afinal".
...............................................

Photobucket - Video and Image Hosting


A história do Eskobar não é recente: começa em 1996, na cidade sueca de Åkersberga (a 30 Km de Estocolmo), quando três amigos com média de 23 anos, resolvem montar uma banda para tocarem pelos lados da capital. O primeiro trabalho em estúdio porém foi lançado apenas em 2000, depois que, tendo em mãos uma demo com três músicas, Daniel Bellqvist, Frederik Zäll e Robert Birming (voz, guitarra e bateria, respectivamente) assinam com a V2 Music.
A estréia 'Til We're Dead (de apenas 35 minutos), é melancólica, com a sonoridade girando em torno do que muitos chamam de "New Folk" (na escola de bandas como Mazzy Star, Cowboy Junkies e outras), com destaque para Good Day for Dying, de refrão grudento com letra interessante ("It's such a good day for dying / But still I've never been crying / So maybe I should be waiting / For god and me to be dating").

There's Only Now, segundo trabalho do grupo, é lançado em outubro de 2001, e representa um redirecionamento em termos de som: sai o "New Folk", fica o pop, e ponto.
Melodias gélidas, refrões pegajosos, bateria eletrônica, teclados e o vocal maduro de Daniel Bellqvist (que muitas vezes beira a androgenia, como em On The Ground, por exemplo).

Dizem que o terceiro disco é o que vale na discografia de um grupo, o que mostra se há ali criatividade suficiente para render mais alguns anos de estrada. Talvez pensando nisso, A Thousand Chances, de 2004, funciona como uma espécie de releitura de tudo que o Eskobar já havia feito até então, uma "análise" dos álbuns anteriores. Está tudo ali: melodias doces e tristes, vocais apurados, referências folk, teclados, steel guitar, batidas eletrônicas etc.



Photobucket - Video and Image Hosting



Após dois anos sem gravar, o trio põe nas ruas Eskobar. Entre as muitas razões que podem levar um grupo a batizar um álbum com o nome da própria banda (ou simplesmente não batizá-lo, o que, no fim das contas, dá no mesmo), dois são os mais comuns: falta de criatividade ("Ah! Sei lá... deixa sem nome mesmo!") e a "assinatura" ("Esse disco tem a NOSSA cara! Somos isso!"). E é no segundo ítem que se encaixa o quarto trabalho dos suecos.
Mesmo contendo os elementos que caracterizaram os discos anteriores (tendendo um pouco mais para o lado mais melancólico, abrindo mão de canções mais "pulsantes"), infelizmente, Eskobar não é empolgante. Embora seja um bom álbum (melhor do que muita coisa que faz sucesso por aí, tenha certeza disso), acaba sufocado pelo brilho dos que o antecederam. Perto de There's Only Now, por exemplo, Eskobar não é mais do que um copo d'água com açúcar.

Os primeiros minutos desse pequeno disco (que tem cerca de 37 minutos de duração) não dizem a que vieram. The Art Of Letting Go e By Your Side estão sonoramente bem próximas ao primeiro álbum da banda. São canções contidas, com melodias tristes, steel guitar (no caso da primeira) e violão (na segunda) que, apesar de bonitas, deixam aquela sensação de "Tá! Mas e daí? É SÓ isso?!".

Persona Gone Missing vem na seqüência, e, com a simplicidade de sua letra (dos primeiros versos "Here’s a story of a man who thought he was the only one with brains / And for a long long time he had me fooled and i believed that was actually the case") e seu refrão pegajoso ("What used to be is just no where, no where to be found"), é capaz de lhe fazer abrir um sorriso. Mas a bela Some Of Us Got Paid, levada somente em violão, steel guitar (um ótimo arranjo de Frederik Zäll, por sinal) e uma percussão quase imperceptível, faz com que o ritmo caia novamente.

Whatever This Town é mais uma com ótimo refrão e boa participação do que, a cada música que passa, se firma como maior paixão da vida de Frederik: a steel guitar. "Whatever this town, makes you think of me / I’ll still be around, when the final bell rings / Whatever this town, makes you think of me / What you see right now is who i am" - a melhor do disco, e uma das melhores do grupo.

Heads Of The Gods aposta na simplicidade, com poucos acordes, percussões econômicas e ótimos backing vocals. Traz também um belo solo de guitarra, que confirma a teoria de que sentimentos não dependem de virtuose ou milhares de técnicas.

Devil Keeps Me Moving traz uma agradável perfomance de Daniel Bellqvist, com seus ótimos falsetes, enquanto When You're Gone, logo na seqüência, remete à Heather Nova na sonoridade, e traz uma das melhores letras do álbum ("When you’re gone I’ll turn the page and start a new / And I’ll burn the book of past and push on thru / Kill the pain inside and fall into / The state I’ve been longing for to stay true"), confirmando o que Daniel chegou declarou anos atrás: "(...) nossa música é a expressão dos nossos sentimentos, e preferimos não misturar as coisas".

As faixas que encerram o álbum, Immortality e Champagne (essa com um melo arranjo de cordas, e implementada por uma breve gaita, que também aparece na anterior), tornam mais clara uma suspeita que pode acompanhar toda a audição do álbum: o que Robert Birming, fez durante o processo de composição? O baterista participa muito pouco do álbum, e, quando o faz, é através de batidas econômicas, ou percussões sutis, quase como se não se importasse em estar no grupo.

Mesmo com algumas belas canções, Eskobar é tão "sete e meio", começa e termina de forma tão discreta que, se você estiver fazendo qualquer outra coisa enquanto o escuta, sequer vai notar quando parar de tocar. É uma pena. Conhecendo os trabalhos anteriores, é fácil perceber que eles podiam render mais do que isso.
Ainda assim, vale a audição. Afinal, esse é o quarto disco de uma banda que, até pouco tempo atrás, em um dos primeiros e mais completos textos sobre ela publicado no Brasil, era citada como "uma das bandas pop de maior qualidade de sua geração".

.........................


Leia: Esse Você Precisa Ouvir: Eskobar, por Jorge Wagner.
Visite: Eskobar: Site Oficial.
Baixe: os três primeiros álbuns.

12 julho 2006

Placebo - Meds

Só pra estreiar o Áudio 2006, posto o texto que escrevi sobre o último álbum do Placebo, publicado originalmente no Scream & Yell, no dia 10 de abril.
Algumas opiniões quanto ao álbum mudaram, mas não vou me dar ao trabalho de reescrever o texto.
...................................

Photobucket - Video and Image Hosting


O Placebo mudou. Quantos de nós somos os mesmos que éramos há 10 anos? Mudamos nossas roupas, nosso corte de cabelo, nossas amizades, nosso gosto musical, nossas crenças, nossa posição política. Se evoluímos ou não, creio que não cabe discutir. Mudamos. Já não somos os mesmos, e apenas isso. E merecem prêmios todos aqueles que o fizeram sem a intenção de acompanhar tendências e modismos.

Com a coletânea Once More Feeling – Singles 1996-2004, Brian Molko, Stefan Osdal e Steve Hewitt fecharam o que pode ser chamado de "a primeira fase" do Placebo. Não que o homônimo disco de estréia (de 1996), Without You I’m Nothing (1998), Black Market Music (2000) e Sleeping With Ghosts (2004) sejam uma coisa só. É que foi-se o "nervosismo" inicial de faixas como 36 Degrees e Nancy Boy dando lugar à músicas mais fáceis de digerir, explicitando influências pós-punk (caso de Every You Every Me e You Don’t Care About Us) - bons anos antes da louvação infantilizada aos anos 80 que entraria em voga no início do novo milênio -, e baladas tristes à moda Placebo, que começam com Without You I’m Nothing (que na coletânea traz Molko em dueto com David Bowie), passam por Black-Eyed e deságuam em Special Needs.

Once More Feeling é um retrato de uma banda que muda, mas muda para continuar sendo ela mesma, por mais contraditório que pareça. A banda que criou verdadeiro 'frisson' ao passar por esses lados do Atlântico em abril do ano passado (chegando nesta época a até mesmo figurar entre as mais pedidas de uma das rádios - hoje extinta - com o público de gosto mais duvidoso do país). A banda fez no Rio de Janeiro um show cansado, antes de entrar em férias, mas também fez a promessa de que 2006 os traria de volta, com um álbum novo no currículo.

Em entrevista ao programa Metrópole, da TV Cultura, concedida durante o tempo em que a banda esteve no país, Brian Molko declarou, entre outras coisas, que não ouvia mais bandas de rock, e que o que o interessava mesmo era o universo da música eletrônica (o que quase – ironia – não dá pra perceber em I Do, lançada apenas na coletânea), do hip-hop (tsc!) e do trip-hop (ufa!). O que esperar do próximo álbum, portanto? Uma continuação de Sleeping With Ghosts? Várias medianas como I Do ou várias excelentes como Twenty Years? Impossível saber.

Meds, lançado oficialmente no último dia 21 de março (apesar de já estar circulando pela rede há praticamente três meses), teve como precursor o single Because I Want You. Com menos de 50 minutos de duração, 13 faixas, participações de VV (The Kills), e Michael Stipe (R.E.M.), Meds, é primeira página de um novo capítulo do livro chamado Placebo.

A faixa-título é também a faixa de abertura. Conta com a participação da "assassina" Alison Mosshart, a "VV", do The Kills. Após 50 segundos de apenas voz e violão, com a entrada de bateria e baixo, já não resta dúvidas: apesar de algo soar diferente, e "novo", ainda é a mesma banda que gravou hits como Every You Every Me e Special K, e a mais b-side (porém sem menor qualidade) Days Before You Came.

Acalmem-se todos aqueles que temiam a afetação techno: o Placebo pode não ouvir mais bandas de rock, mas, ainda assim, continua sendo uma banda de rock. Não que tenham aberto mão de recursos eletrônicos, mas sabem a medida certa, a hora e forma de usá-los, como comprovam as faixas Infra-Red, a hipnótica Space Monkey, além de Blind (dessas que crescem, até um refrão forte, do tipo que fará muita gente cantar junto nos shows) e Pierrot The Clown – essas duas últimas, com sutis flertes com o trip-hop. Pierrot The Clown, em especial, remete ainda a outra boa música da banda: Burger Queen, de Without You I'm Nothing.

Salta aos ouvidos o fato de que Because I Want You não foi, em termos de qualidade, a melhor escolha para ser o primeiro single do disco. Não que seja ruim, como insistem em dizer alguns fãs puristas da banda (que, não resta dúvida, se fossem mais velhos, com certeza teriam esganado o camaleão David Bowie – um forte ponto de referência para Molko e sua turma - em uma de suas muitas "trocas de pele pop"), mas não passa nem perto de ser é a melhor - título disputado pelas excelentes Post Blue e Broken Promise – outra com refrão marcante, dos versos "I'll wait my turn, / To tear inside you, / Watch you burn... / And I'll wait my turn, / To terrorize you, / Watch you burn... / And I'll wait my turn, / I'll wait my turn.", e que traz Michael Stipe dividindo o vocal com Brian - e Song To Say Goodbye, que fecha o disco de forma certeira ("Uma voz que me faz chorar... / Essa é uma canção pra dizer adeus.")

A crueza do primeiro álbum, as influências explicitadas no segundo, o clima soturno no terceiro e a ousadia eletrônica do quarto serviram como trilha para uma banda que, com dez anos de carreira, demonstra saber bem onde está pisando, ter plena consciência do que podem e querem fazer, não importa o que digam. Molko ainda é o rapaz de olhos negros que nasceu para perder, mas está maduro, e sabe que não precisa ficar berrando isso aos quatro cantos, apesar do medo de ficar só que ainda diz (canta) sentir. Ele mudou. O Placebo mudou. Mas, afinal, quantos de nós ainda somos os mesmos que éramos há 10 anos? Merecem prêmios todos aqueles que o fizeram sem a intenção de acompanhar tendências e modismos.

testando...

A idéia do Áudio 2006 é postar resenhas (algumas minhas, outras de outras pessoas - se me autorizarem, é claro) de álbuns lançados em 2006 (óbvio, não?). Isso serviria para completar o trabalho que começou com a Indie Others, resultando numa lista de links para esses lançamentos.
Com um blog de resenhas, fica simples: você lê, e, se ficar curioso, vai lá na lista e baixa o disco - caso ele esteja disponível.

Esse espaço aqui também vai fazer com que eu diminua a quantidade de textos sobre música no meu "blog oficial", o Deixei de Acreditar.

Ainda não sei se vou seguir com essa idéia, mas em todo caso, o blog já está feito.
JW.