12 julho 2006

Placebo - Meds

Só pra estreiar o Áudio 2006, posto o texto que escrevi sobre o último álbum do Placebo, publicado originalmente no Scream & Yell, no dia 10 de abril.
Algumas opiniões quanto ao álbum mudaram, mas não vou me dar ao trabalho de reescrever o texto.
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O Placebo mudou. Quantos de nós somos os mesmos que éramos há 10 anos? Mudamos nossas roupas, nosso corte de cabelo, nossas amizades, nosso gosto musical, nossas crenças, nossa posição política. Se evoluímos ou não, creio que não cabe discutir. Mudamos. Já não somos os mesmos, e apenas isso. E merecem prêmios todos aqueles que o fizeram sem a intenção de acompanhar tendências e modismos.

Com a coletânea Once More Feeling – Singles 1996-2004, Brian Molko, Stefan Osdal e Steve Hewitt fecharam o que pode ser chamado de "a primeira fase" do Placebo. Não que o homônimo disco de estréia (de 1996), Without You I’m Nothing (1998), Black Market Music (2000) e Sleeping With Ghosts (2004) sejam uma coisa só. É que foi-se o "nervosismo" inicial de faixas como 36 Degrees e Nancy Boy dando lugar à músicas mais fáceis de digerir, explicitando influências pós-punk (caso de Every You Every Me e You Don’t Care About Us) - bons anos antes da louvação infantilizada aos anos 80 que entraria em voga no início do novo milênio -, e baladas tristes à moda Placebo, que começam com Without You I’m Nothing (que na coletânea traz Molko em dueto com David Bowie), passam por Black-Eyed e deságuam em Special Needs.

Once More Feeling é um retrato de uma banda que muda, mas muda para continuar sendo ela mesma, por mais contraditório que pareça. A banda que criou verdadeiro 'frisson' ao passar por esses lados do Atlântico em abril do ano passado (chegando nesta época a até mesmo figurar entre as mais pedidas de uma das rádios - hoje extinta - com o público de gosto mais duvidoso do país). A banda fez no Rio de Janeiro um show cansado, antes de entrar em férias, mas também fez a promessa de que 2006 os traria de volta, com um álbum novo no currículo.

Em entrevista ao programa Metrópole, da TV Cultura, concedida durante o tempo em que a banda esteve no país, Brian Molko declarou, entre outras coisas, que não ouvia mais bandas de rock, e que o que o interessava mesmo era o universo da música eletrônica (o que quase – ironia – não dá pra perceber em I Do, lançada apenas na coletânea), do hip-hop (tsc!) e do trip-hop (ufa!). O que esperar do próximo álbum, portanto? Uma continuação de Sleeping With Ghosts? Várias medianas como I Do ou várias excelentes como Twenty Years? Impossível saber.

Meds, lançado oficialmente no último dia 21 de março (apesar de já estar circulando pela rede há praticamente três meses), teve como precursor o single Because I Want You. Com menos de 50 minutos de duração, 13 faixas, participações de VV (The Kills), e Michael Stipe (R.E.M.), Meds, é primeira página de um novo capítulo do livro chamado Placebo.

A faixa-título é também a faixa de abertura. Conta com a participação da "assassina" Alison Mosshart, a "VV", do The Kills. Após 50 segundos de apenas voz e violão, com a entrada de bateria e baixo, já não resta dúvidas: apesar de algo soar diferente, e "novo", ainda é a mesma banda que gravou hits como Every You Every Me e Special K, e a mais b-side (porém sem menor qualidade) Days Before You Came.

Acalmem-se todos aqueles que temiam a afetação techno: o Placebo pode não ouvir mais bandas de rock, mas, ainda assim, continua sendo uma banda de rock. Não que tenham aberto mão de recursos eletrônicos, mas sabem a medida certa, a hora e forma de usá-los, como comprovam as faixas Infra-Red, a hipnótica Space Monkey, além de Blind (dessas que crescem, até um refrão forte, do tipo que fará muita gente cantar junto nos shows) e Pierrot The Clown – essas duas últimas, com sutis flertes com o trip-hop. Pierrot The Clown, em especial, remete ainda a outra boa música da banda: Burger Queen, de Without You I'm Nothing.

Salta aos ouvidos o fato de que Because I Want You não foi, em termos de qualidade, a melhor escolha para ser o primeiro single do disco. Não que seja ruim, como insistem em dizer alguns fãs puristas da banda (que, não resta dúvida, se fossem mais velhos, com certeza teriam esganado o camaleão David Bowie – um forte ponto de referência para Molko e sua turma - em uma de suas muitas "trocas de pele pop"), mas não passa nem perto de ser é a melhor - título disputado pelas excelentes Post Blue e Broken Promise – outra com refrão marcante, dos versos "I'll wait my turn, / To tear inside you, / Watch you burn... / And I'll wait my turn, / To terrorize you, / Watch you burn... / And I'll wait my turn, / I'll wait my turn.", e que traz Michael Stipe dividindo o vocal com Brian - e Song To Say Goodbye, que fecha o disco de forma certeira ("Uma voz que me faz chorar... / Essa é uma canção pra dizer adeus.")

A crueza do primeiro álbum, as influências explicitadas no segundo, o clima soturno no terceiro e a ousadia eletrônica do quarto serviram como trilha para uma banda que, com dez anos de carreira, demonstra saber bem onde está pisando, ter plena consciência do que podem e querem fazer, não importa o que digam. Molko ainda é o rapaz de olhos negros que nasceu para perder, mas está maduro, e sabe que não precisa ficar berrando isso aos quatro cantos, apesar do medo de ficar só que ainda diz (canta) sentir. Ele mudou. O Placebo mudou. Mas, afinal, quantos de nós ainda somos os mesmos que éramos há 10 anos? Merecem prêmios todos aqueles que o fizeram sem a intenção de acompanhar tendências e modismos.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

não sei do disco pois ainda não o ouvi,rs.

de qualquer forma,estou esperando pela próximas dicas.

11:07 AM  
Anonymous Anônimo said...

JW, as pessoas que me conhecem bem sabem que sem duvida alguma placebo é a minha banda do coração, talvez pela morfologia, nitidamente herdada do mestre bowie, ou pela "agressividade" das canções, e dizer oque eu esperava do meds, não foi dificil, mesmo, de forma alguma, foi bem facil, analisando pelo cronograma que você mesmo montou na analise de once more with feeling, eu vi que esse seria um album mais adulto, dramatico eu diria, e sem duvida com tendencias eletronicas.
molko pode não mais ter entre seus cds do carro, bandas de rock, mas e o resto da banda?
e na edição especial do meds, cuja é dupla com dvd, eles, brian stephan e steve, dizem os ques e porques do album, e a frase de começo do dvd é: A MORTE DE NANCY BOY. ao som de infra-red, com toda a sua dramaticidade, claustrofobica. e o placebo diz: "realmente é estranho uma banda matar oque a tornou mais famosa! mas fisemos isso e estamos felizes..."
oque o placebo quiz dizer com isso?
chegou a hora de deixarmos de vender o "viadinho" pra vender a banda, não que isso queira dizer que sr.molko va parar de se pintar, ou que stephan vá parar de rebolar, mas que a banda cresceu, e seu tempo de afetação, passou, e agora eles são musicos, gostem ou não...

*na minha opnião, o album mais completo do placebo*

2:25 PM  
Anonymous Naty Iha said...

Parabéns pelo texto, muito bem escrito!
(Só tem um erro: os olhos do Brian são azuis, e não negros..)

[michel]:
"chegou a hora de deixarmos de vender o "viadinho" pra vender a banda, não que isso queira dizer que sr.molko va parar de se pintar, ou que stephan vá parar de rebolar, mas que a banda cresceu, e seu tempo de afetação, passou, e agora eles são musicos, gostem ou não..."

não entendi, ...

personalidade para encarar/demonstrar sexualidade não é sinonimo de afetação, é?
se sim, então o "mestre bowie" seria o rei dos afetados né?

9:44 PM  

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